
O INSS me deu alta, mas eu ainda não me recuperei: e agora?
(escrito por TIAGO FAGGIONI BACHUR. Advogado e Professor Especialista em Direito Previdenciário. Autor de Obras Jurídicas)
Quando o INSS dá alta, é quase como se o perito dissesse: “Levanta-te e anda!”
O detalhe é que, muitas vezes, você mal consegue levantar-se da cama.
E a sensação é de estar sendo tratado como alguém que finge dor, que inventa doença ou que só quer “ficar em casa à toa”. Como se fosse fácil conviver com limitações, dores, medicamentos e consultas intermináveis. Como se alguém escolhesse viver assim.
Se você já passou por isso, sabe: é revoltante. O médico que acompanha o seu tratamento diz claramente que você não tem condições de voltar ao trabalho. Mas na perícia do INSS, em poucos minutos, alguém conclui o contrário. E pronto: alta decretada.
O que fazer diante dessa situação?
Aceitar calado? Se arrastar de volta ao trabalho sem estar recuperado? Ou lutar pelo que é seu direito?
A resposta exige calma, estratégia e informação. E é isso que você vai entender agora: quais são suas alternativas, os riscos de cada uma e qual é o caminho mais seguro para proteger sua saúde e seu futuro.
Enfim... O que fazer quando o sistema ignora o óbvio? O que fazer quando sua saúde grita, mas a burocracia tapa os ouvidos?
- Voltar ao trabalho doente: o peso mais cruel
Muitos voltam porque não têm opção. As contas vencem, o aluguel não espera, a comida na mesa precisa estar lá. Mas o preço é alto demais. Entre “morrer de fome” e “morrer de dor”, muitas vezes, o cidadão prefere “morrer de dor” para não “morrer de fome”.
Em outras palavras, a volta ao trabalho ocorre por um estado de necessidade e não porque o segurado está apto.
Trabalhar sem estar recuperado é carregar um fardo duplo: a dor física e o medo constante de não dar conta. É se arrastar para cumprir um dever, enquanto a doença piora.
E o resultado? Muitas vezes, a perda do emprego.
É cruel, porque o trabalhador não apenas sofre com a saúde debilitada, mas também com a sensação de ser descartável.
Em suma, infelizmente, muitos não veem alternativa: sem renda, com contas acumulando, acabam voltando ao trabalho mesmo sem condições físicas.
Mas essa é a escolha mais perigosa. Além de agravar a doença, o trabalhador pode não conseguir desempenhar suas funções adequadamente.
Ou seja: resolve o problema imediato da falta de renda, mas cria uma bola de neve de consequências muito piores. É trocar uma dor de cabeça por uma enxaqueca.
- Recurso administrativo: a esperança que quase nunca floresce
Sim, existe o recurso. Sim, existe a opção de recorrer dentro do próprio INSS.
Mas vamos falar a verdade: esse recurso raramente resolve alguma coisa.
Na maioria das vezes, é como plantar sementes em solo árido.
Você espera que algo germine, mas sabe que dificilmente vai brotar.
Quase sempre, quem analisa o recurso repete o mesmo raciocínio da primeira decisão. Não há um olhar novo, não há investigação mais profunda. É como se você estivesse batendo na mesma porta fechada, esperando que, por milagre, alguém decida abrir.
O único ponto positivo: não tem custo e pode ser feito online.
O lado negativo (e pesado): a chance de sucesso é mínima, só não perde para a pior saída de todas (voltar a trabalhar sem condições).
Portanto, embora exista no papel, o recurso administrativo dificilmente será a solução que você precisa.
As chances de o INSS mudar de ideia são mínimas. O recurso quase sempre é analisado por quem pensa exatamente igual a quem já negou.
E o que é pior: quase sempre acabam sendo muito mais demorados do que um processo na Justiça. Já vi, muitas vezes, pessoas que aguardavam respostas de recursos formulados no próprio INSS enquanto outras, que optaram em ingressar com ação na Justiça, conseguiram o resultado positivo muito antes do que aquelas que aguardavam a decisão administrativa do mencionado recurso.
O recurso administrativo costuma ser a esperança mais frágil, e muitas vezes serve apenas para prolongar a angústia.
- Novo pedido: uma nova chance
Um novo pedido pode ser como abrir outra janela quando a porta se fecha.
Com exames recentes, relatórios médicos atualizados e provas novas, há uma chance real de o INSS reconsiderar.
Não é garantia, claro. Mas, em alguns casos, é suficiente para que o trabalhador volte a respirar aliviado.
Porém, nessa opção, quando dá certo, o segurado passa a receber APENAS dali para frente. Os valores do período anterior que não foi pago fica perdido.
Dessa maneira, o novo pedido funciona como um breve paliativo para que o segurado volte a receber, mas sem olhar para o que ficou para trás.
Aqui, você não insiste no passado. Você recomeça do zero.
Isso significa apresentar relatórios médicos recentes, novos exames e, principalmente, mostrar que a incapacidade continua. Às vezes, o tempo decorrido desde a alta já serve como prova: se você não melhorou até agora, é porque a decisão anterior não refletiu a realidade.
O lado positivo: chance de cair com outro perito, talvez mais atento, e possibilidade de reforçar sua situação com novas provas.
O lado negativo: o risco de cair no mesmo ciclo vicioso de negativas.
O segredo aqui é um só: documentação médica sólida. Quanto mais provas, menos espaço para a burocracia fingir que não viu.
Quando o INSS volta a pagar, porém fica com “buracos” de períodos sem receber, dá para tentar buscar na Justiça os valores impagos pela Previdência Social.
- Ação judicial: quando a Justiça devolve dignidade
A Justiça é, para muitos, a última chama de esperança — e, ao mesmo tempo, a mais forte.
Aqui, não é o INSS quem decide. Um juiz analisa o caso e um perito independente avalia sua saúde.
É a oportunidade de ser realmente ouvido. De mostrar sua dor com provas, sem ser tratado como um simples número.
E quando a decisão é favorável, não é apenas o benefício que retorna. É a sensação de dignidade, de que a vida pode voltar a caminhar.
Portanto, chega uma hora em que insistir dentro do próprio INSS é perda de tempo.
É nesse momento que entra a Justiça.
Assim, ao ingressar com ação judicial, você passa a ter direito a uma perícia médica independente, nomeada pelo juiz. Este perito não está vinculado ao INSS, e sua função é analisar tecnicamente se você está ou não em condições de trabalhar.
O lado positivo: as chances de conseguir o benefício aumentam consideravelmente. Além disso, você pode receber valores retroativos, corrigidos e com juros.
O lado negativo: o processo leva tempo. Pode demorar meses ou, em alguns casos, anos.
De qualquer maneira, é melhor esperar um tempo para ter o benefício garantido do que viver pulando de indeferimento em indeferimento, sem renda e sem dignidade.
De um modo geral, na Justiça, o jogo é mais justo. Você não fica refém de análises superficiais.
E agora?
Cada escolha tem um preço.
Voltar a trabalhar doente cobra caro da sua saúde e do seu futuro.
Recorrer dentro do INSS é quase sempre em vão.
Um novo pedido pode dar certo, mas precisa de força documental e, certamente, deixará “buracos” para trás.
E a Justiça, mesmo que às vezes demore, pode ser o caminho mais sólido.
É importante, porém, abrir um parêntese aqui. Cada situação é única e precisa ser analisada com cautela. Isso porque, pode ser que em algumas situações o melhor caminho, por exemplo, seja o recurso administrativo ao invés da Justiça, quando, por exemplo, em um determinado assunto o INSS tem um posicionamento mais favorável ao beneficiário. Outras vezes, será a Justiça a detentora da melhor opção. Há casos em que começar do zero, fazendo um novo pedido.
A escolha depende de sua situação, mas uma coisa é certa: tentar enfrentar isso sozinho é arriscado demais.
Conclusão: sua dor merece respeito
O INSS tem estrutura, normas internas e até metas de redução de gastos. Você, sozinho, tem apenas a sua dor e sua boa-fé. É uma luta desigual.
E é aí que entra o advogado especialista em Direito Previdenciário. Ele conhece as regras, os caminhos e até os atalhos para aumentar suas chances. Ele sabe como apresentar sua documentação, qual a estratégia mais adequada e como transformar sua luta em resultado.
Sem advogado, você corre o risco de se perder no meio da burocracia. Com advogado, você transforma um processo penoso em uma chance real de vitória.
Portanto, o INSS pode até tentar reduzir você a um protocolo, mas você não é um número. Você é uma vida, uma história, alguém que precisa de cuidado e de justiça.
Um advogado especialista em Direito Previdenciário não vai apenas mexer com papéis. Ele vai lutar pela sua dignidade, pelo direito de se tratar e se recuperar antes de voltar ao trabalho.
Sua vida merece justiça.
Se o INSS te deu alta, mas você ainda não se recuperou, não aceite calado. Procure ajuda.
Porque ninguém merece escolher entre saúde e sobrevivência.
Reflita: O INSS pode até dar a alta, mas quem sabe da sua dor é você. Em caso de dúvida, quem pode transformar essa dor em justiça é um advogado especialista de sua confiança.
Por fim, a pergunta é: você vai esperar mais quanto tempo para tomar essa decisão?
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Publicado em 24.08.2025 no site Bachur Advogados (disponível em www.bachuradvogados.com.br), no Blog “Tenho Direito Doutor?” (disponível em https://bachuradvogados.com.br/blog/artigo/p/143), no "Álbum de Dicas do Dr. Tiago Faggioni Bachur" do Facebook (disponível em https://www.facebook.com/media/set/?set=a.6599692126713770&type=3) e “Portal GCN-Sampi” na coluna “Opinião” (disponível em https://sampi.net.br/franca/categoria/id/398/tiago-bachur).