
“O GOLPE DO FALSO ADVOGADO: A próxima vítima pode ser você”
(escrito por Tiago Faggioni Bachur. Advogado e Professor Especialista em Direito Previdenciário. Autor de várias obras jurídicas)
Se alguém dissesse que é possível perder dinheiro por excesso de confiança, você acreditaria?
Pois é exatamente isso que está acontecendo com milhares de brasileiros que têm — ou já tiveram — processos judiciais em andamento.
Não é exagero. É fato. E vem crescendo num ritmo alarmante.
Os golpistas estão ficando cada vez mais ousados. Agora, eles não invadem a sua casa. Invadem a sua confiança.
Esses bandidos sabem seu nome. Sabem o número do seu processo. Sabem quem é o seu advogado. E, pior: usam até a foto dele.
O roteiro é sempre parecido: “Você ganhou uma ação na Justiça e vai receber R$ 20 mil (ou qualquer outro valor). Só precisa pagar uma pequena taxa processual.” Tudo parece certo. O número do processo bate. A linguagem é técnica. A foto é real. E o golpe acontece.
A vítima? Qualquer um de nós.
1) Como funciona o golpe?
Criminosos têm acessado os sites dos Tribunais — onde processos são públicos — para colher informações reais: nome das partes, advogados, número de processos e até valores da causa.
Com isso em mãos, eles montam um perfil falso no WhatsApp com a foto do advogado verdadeiro (normalmente pegam essa imagem nas redes sociais ou no site do escritório), e abordam a vítima como se fossem do escritório jurídico ou o próprio advogado.
O enredo sempre inclui uma notícia boa: “sua causa foi ganha” ou “o valor já está disponível, só falta liberar com o pagamento da guia”.
O tom? Educado, técnico, convincente.
O objetivo? Que você transfira valores para uma conta que, em minutos, estará zerada.
E tem mais: há casos em que o criminoso agenda um atendimento presencial — usando o endereço real do escritório — para “dar mais confiança” à vítima. No dia e hora marcados, claro, ninguém aparece.
Ou ainda, coloca um terceiro para conversar, fazendo o papel de um Oficial de Justiça, por exemplo.
2) Mas não é só com quem tem processo judicial...
Outro golpe também que, infelizmente, está se tornando muito comum.
Muitos fraudadores estão se passando por advogados para oferecer “indenizações” ou “benefícios” que realmente existem, como o auxílio-acidente, pensão por morte, aposentadoria ou salário-maternidade. Ou, ainda, ingressar com algum tipo de revisão de benefício. Tem, ainda, aqueles que oferecem ações contra bancos ou outras instituições ou órgãos onde a vítima é cliente ou faz parte.
Mas a pergunta que não quer calar é: como eles conseguem essas informações?
Assim, antes de qualquer coisa é preciso ter cautela, atenção e, principalmente, buscar sempre orientação com um advogado de sua confiança.
De um modo geral esses golpistas abordam suas vítimas por telefone ou WhatsApp, alegando que elas têm direito a receber valores — o que pode até ser verdade. Mas aí vem o problema: como eles sabem disso? Quem deu acesso a essas informações? Que tipo de consulta foi feita? Foi lícita?
Porque se o contato já começa de forma ilegal — com abordagem indevida, uso de dados sigilosos e promessas milagrosas — quem garante que o final não será trágico?
Em outras palavras: se o começo já é torto, o final dificilmente será reto.
E mais importante: se quem entrou em contato com você agiu fora da ética da OAB (já que isso de abordagem é expressamente proibida pela OAB), será que esse indivíduo é mesmo advogado?
Se já começou errado, por que terminaria certo?
3) Como se proteger de forma prática
Anote estas orientações — e, mais do que isso, compartilhe com quem você ama:
- Confirme o número do advogado ou do escritório em fontes oficiais (como o site da OAB);
- Nunca faça pagamentos sem contrato e sem falar pessoalmente com o profissional contratado;
- Confirme se a ligação ou a mensagem que você está recebendo pertencem de fato do advogado que você contratou, não confie só na foto que aparece no perfil e desconfie se pedir alguma quantia para liberar um valor maior. Em caso de dúvida, LIGUE (no telefone OFICIAL do escritório – e não naquele que aparece na mensagem suspeita) ou VÁ PESSOALMENTE no escritório de seu advogado;
- Não forneça seus dados pessoais ou bancários por WhatsApp ou telefone;
- Desconfie de abordagens inesperadas, principalmente com promessas de dinheiro fácil;
- Evite clicar em links desconhecidos ou baixar arquivos enviados por estranhos;
- Se perceber que se trata de um golpe, denuncie e bloqueio o número. Faça, também, Boletim de Ocorrência.
4) Conclusão: informação é defesa
A cada nova fraude, os golpistas ficam mais criativos. Mas você também pode ficar mais preparado. A chave está na informação, atenção e ação consciente.
Não perca tempo e nem dinheiro. E, acima de tudo, não tome nenhuma decisão sem consultar um advogado de sua confiança.
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Publicado em 07.07.2025 no site Bachur Advogados (disponível em www.bachuradvogados.com.br), no Blog “Tenho Direito Doutor?” (disponível em https://bachuradvogados.com.br/blog/artigo/p/136), no "Álbum de Dicas do Dr. Tiago Faggioni Bachur" do Facebook (disponível em https://www.facebook.com/media/set/?set=a.6599692126713770&type=3 ) e “Portal GCN-Sampi” na coluna “Opinião” (disponível em https://sampi.net.br/franca/categoria/id/398/tiago-bachur).